16 de abril de 2007

Realismo rosenbergiano

Stuart Rosenberg faleceu no passado mês de Março antes de completar 80 anos. Da sua filmografia não rezam muitos dos livros que dizem respeito à história do cinema. A omissão justificar-se-á pela irregularidade do trabalho deste que foi no entanto um estimável profissional que teve no género "filme de prisão" talvez as duas únicas e discretas glórias. Rosenberg era o realizador de Cool Hand Luke, com Paul Newman - o seu filme até ao presente mais celebrado, basta recordar o cartaz do mesmo que viamos no quarto Monty Brogan, protagonista dessa obra-prima que dá pelo nome de 25th Hour -, e cerca de duas décadas mais tarde de Brubaker (1980), com Robert Redford. É sobre este último que gostava de referir o notável trabalho de direcção artística de J. Michael Riva (que se note, neto de Marlene Dietrich), responsável pela construção do cenário da prisão de Wakefield onde tem lugar quase toda a acção: o trabalho de Riva terá impressionado de tal modo Redford, que este o chamou em seguida para trabalhar no seu primeiro filme que viria a dirigir nesse mesmo ano, o belíssimo melodrama de câmara Ordinary People. Brubaker baseia-se em acontecimentos reais e fala-nos das condições desumanas e da mais vergonhosa corrupção praticada numa prisão algures no sul dos Estados Unidos, onde se reproduziam modelos que apenas podemos chamar de escravatura. Brubaker não é obra totalmente lograda na medida em que uma vez esclarecida a identidade daquele que se revela ser o novo director prisional, Brubaker (Robert Redford), o filme vai perdendo intensidade dramática - apesar da notável direcção de óptimos actores (Morgan Freeman anda por lá e "como" se faz notar!) - no decorrer da cruzada deste que se revela (hoje?) algo previsível. O filme de Rosenberg é talvez num sentido mais abrangente uma obra de temática social (até algo utópica) que depois gere os conflitos que estabelece com puerilidade e desenbaraço mais característicos da série B. Mas tem, recorde-se, um conjunto de décors fortíssimos - valorizados pela fotografia do francês Bruno Nuytten - que nos projectam no interior da prisão de Wakefield e arredores, e nos mantêm em alerta constante face às atrocidades verificadas. O cinema pode até ser de segunda, mas a carpintaria é definitivamente de primeira.