24 de abril de 2007

Dunas

Escreve Ian McEwan em jeito de nota final ao seu novo livro, Na Praia de Chesil (Gradiva), que comecei agora a ler: "As personagens deste romance são fictícias e não têm qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas. O hotel de Edward e Florence - a pouco mais de quilómetro e meio a sul de Abbotsbury, no Dorset, e situado numa elevação de um terreno por trás do parque de estacionamento da praia - não existe." O pequeno esclarecimento de McEwan é delicioso pois dá-se ao trabalho de situar com pormenor uma coisa que "não existe". Acredito que será nisto, em última análise, que consistirá não apenas a literatura como o cinema. Na fabricação de uma verdade que não existe - excepto num certo e determinado momento e numa região interior do leitor/ espectador. Um fingimento, como diria o poeta. Que pode ser verdadeiro na medida em que o sentimos como tal.

Obs. A fotografia diz respeito à praia de Chesil. A verdadeira. Que existe.