10 de março de 2007

Realismo(s)

De que falamos quando falamos de realismo? A questão é tanto mais pertinente quanto vogamos num espaço/tempo de simulações e simulacros — a ponto de entendermos o espaço apenas em função dos circuitos que podem ligar as suas partes; a ponto de medirmos o tempo como uma mera variante do contra-relógio repetitivo a que, globalmente, todas as televisões obedecem.
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A instauração de uma noção plural de realismo talvez seja pedagogicamente útil. Ajuda-nos, pelo menos, a separar as águas, respeitando os olhares: o "meu" realismo não coincide, necessariamente, com o "teu" realismo. Ou ainda: nenhuma visão é automática ou legitimada pelo real. Aliás, em parte, o real existe através da sua representação (esta é a filosofia mais amarga, e também mais vital: no limite, o real não é aquilo que conhecemos, mas aquilo que se escapa um pouco mais face a qualquer tarefa de conhecimento).
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Que fazer, então, com o realismo, aliás, os realismos? Talvez começar por dizer que o simples reconhecimento da sua possibilidade nos coloca contra o naturalismo televisivo e o império cognitivo da telenovela.