10 de março de 2007

O factor humano

No filme de Jake Auerbach, Lucian Freud - Portraits (2004), altera-se a tradicional distribuição de papéis nos documentários sobre "arte & artistas". Para todos os efeitos, temos um tema/personagem: Freud. E uma colecção de testemunhos/pessoas: os que pousaram para os seus quadros. Logo aqui se introduz uma componente pouco comum: os entrevistados não são apenas pessoas que "conhecem" o pintor, mas também temas da sua pintura. Daí um efeito óbvio, mas recheado de subtilezas: os que falam dele são, por assim dizer, compelidos a reconhecer que o vêem também através da forma como ele os viu/pintou. Há aqui, afinal, uma moral pouco popular: vemo-nos sempre com os nossos olhos, mas também através dos olhos dos outros. Neste universo, o humano não é um dado adquirido, mas sim algo que nasce da possibilidade de estabelecer, programar ou pensar uma relação. Será isso uma certa forma de realismo? Um realismo social? Ou das relações sociais?

PS - E não será isso uma ética da arte? Ou um entendimento da arte como modelo ético?