No filme de Jake Auerbach, Lucian Freud - Portraits (2004), altera-se a tradicional distribuição de papéis nos documentários sobre "arte & artistas". Para todos os efeitos, temos um tema/personagem: Freud. E uma colecção de testemunhos/pessoas: os que pousaram para os seus quadros. Logo aqui se introduz uma componente pouco comum: os entrevistados não são apenas pessoas que "conhecem" o pintor, mas também temas da sua pintura. Daí um efeito óbvio, mas recheado de subtilezas: os que falam dele são, por assim dizer, compelidos a reconhecer que o vêem também através da forma como ele os viu/pintou. Há aqui, afinal, uma moral pouco popular: vemo-nos sempre com os nossos olhos, mas também através dos olhos dos outros. Neste universo, o humano não é um dado adquirido, mas sim algo que nasce da possibilidade de estabelecer, programar ou pensar uma relação. Será isso uma certa forma de realismo? Um realismo social? Ou das relações sociais?PS - E não será isso uma ética da arte? Ou um entendimento da arte como modelo ético?