
"To cross or not to cross? To double cross or not to double cross?" São as questões, morais e ficcionais, que o livro de John Le Carré coloca, que o filme de Martin Ritt adapta, que o actor Richard Burton (Alec Leamas) personifica. O p&b da fotografia, sujo, está lá para reforçar o desencanto e o cinismo dos homens que já não sabem quem são, de tanto atravessarem de um lado para o outro (do Leste para o Oeste da Alemanha e vice-versa), de tanto atraiçoarem quer para um lado, quer para o outro. O resultado é o oposto da fantasia: e os filmes da série James Bond eram já muito populares na altura. O oposto da espectacularidade (não forçosamente má) poderá ser o realismo (não necessariamente bom). O Espião Que Veio do Frio é o retrato sóbrio e implacável de um homem que precisa "fingir-se" constantemente ébrio para que outros acreditem naquele que mandaram que ele fosse. Tal como o cinema: sempre falso mas quanto mais competente a falsificação, mais forte a impressão de verdade deixada. Numa só palavra, realismo. Que não tem época. Que é intemporal. E que se serve frio.